As iniciativas ainda são tímidas, mas grandes corporações começam a testar o acesso à Internet via aparelho celular. As dificuldades afugentam os usuários, porém, em prol do serviço, operadoras fecham cada vez mais parcerias na área de aplicações.
Marítima Seguros, BR Distribuidora e Cemig. O que há em comum entre elas, apesar de negócios em áreas tão distintas? Elas fazem parte do time de corporações que decidiu apostar no WAP (Wireless Application Protocol), ou seja, no acesso à Internet via celular como uma ferramenta efetiva de negócio.
No caso da BR Distribuidora, por exemplo, o projeto já está sendo tocado em dois Estados Minas Gerais e Rio de Janeiro e resulta em um faturamento de R$ 860 mil.
De acordo com o diretor de informática da BR Distribuidora, Eduardo Barrocas, há dificuldades em relação à tecnologia. Ele lembra que em Minas Gerais, como a Telemig Celular utiliza o TDMA (Time Division Multiple Access), há também a questão do terminal, já que hoje apenas um fornecedor a Nokia comercializa equipamentos com esta tecnologia no país. Ainda assim, revela, são 33 aparelhos distribuídos no estado mineiro.
No total, a empresa possui 74 aparelhos WAP, sendo 41 no Rio de Janeiro. Estamos finalizando a parceria com a Telesp Celular para também entrarmos com a aplicação no estado de São Paulo, revela Barrocas. Segundo ele, os resultados começam a aparecer. Já vendemos combustível via WAP. O faturamento é de R$ 860 mil/mês e a medida que ampliamos a distribuição dos terminais, a tendência é de incremento nessa receita, relata o executivo. Em todo o país, são 7 mil revendas ligadas à BR Distribuidora.
Identidade
Barrocas diz que a empresa decidiu apostar no WAP, independente da guerra tecnológica entre CDMA (Code-Division Multiple Access) e TDMA. Ele diz que há dificuldades o acesso é lento, os terminais não ajudam mas, no caso da BR Distribuidora, houve o desenvolvimento de uma aplicação própria que despertou o interesse no produto. A Telefônica Celular criou uma aplicação específica para a companhia de petróleo. Com isso, o usuário, ao ligar, já é transferido automaticamente para a página WAP da empresa.
Essa aplicação nos facilitou muito. A navegação no menu WAP não é amigável, mas com o direcionamento da chamada fica mais fácil. Além disso, o menu é simples, informa o executivo.
Na Marítima Seguros, relata o gerente de projetos, Miguel Dotti Filho, o serviço WAP não está tendo a procura esperada pela empresa. Há uma dificuldade em lidar com o menu por parte dos corretores, admite o executivo.
Dotti Filho conta que o acesso à Internet via celular está disponível para os vendedores e funcionários. Eles podem, via handset, acessar a rede credenciada, assim como também estão autorizados a conferir suas comissões. O menu contém outras informações, como telefones úteis e postos de vistorias. No total, lembra o executivo, 100 terminais foram postos à venda em janeiro com o subsídio de 30% a 50% fornecido pela Marítima para corretores e funcionários.
Assim como na BR Distribuidora, no caso da seguradora, um acordo com a Telesp Celular foi vital para o andamento do projeto. Não há dúvida de que a operadora simplificou não apenas o acesso aos terminais, com preços mais acessíveis, como também o desenvolvimento da aplicação, relata.
Unificação
A guerra tecnológica entre os serviços WAP e SMS (Serviço de Mensagem Curta) não interessa nem um pouco aos clientes. Na Companhia de Energia Elétrica de Minas Gerais (Cemig), a solução WAP integra-se ao SMS, revela Márcio Augusto, diretor da BHNet Internet, responsável pelo desenvolvimento e operação na concessionária de energia.
Ele conta que a empresa ofereceu mil terminais para os funcionários de campo. Na verdade, eles servem principalmente para aqueles que trabalham com situações emergenciais. Mensagens de advertência de tempestades, por exemplo, precisam ser enviadas para todo o Estado, informa Márcio Augusto. A integração WAP e SMS ocorre em função do tempo de resposta.
Enviamos a primeira mensagem. Esperamos 15 minutos. Caso não haja uma resposta, enviamos uma segunda informação, dessa vez via SMS. E se continuarmos sem contato, tentamos a ligação via voz, conta o executivo. Ele diz que o índice de resposta via WAP é satisfatório, mas admite que há uma resistência, já que o acesso é lento 7.600 Kbps. O custo da ligação via WAP também é considerado caro. É preciso aperfeiçoar o modelo. Mas ele é viável e eficaz, observa.
Esta opinião é compartilhada pelos executivos da BR Distribuidora e Marítima Seguros. Barrocas, da estatal de petróleo, diz que novas iniciativas estão sendo desenvolvidas. A idéia é ampliar o número de funcionários utilizando o acesso móvel dentro do negócio. Ele é viável. Isso já está comprovado. Bastam os ajustes tecnológicos, afirma.
Planos semelhantes tem a companhia de seguros. Dotti Filho revela que novas aplicações e promoções de acesso aos handsets estão sendo estudadas. E a explicação também esbarra no marketing do processo. Estar à frente de tecnologias pioneiras ajuda a companhia. O WAP precisa de ajustes para acabar com o desconforto do usuário, mas ele é viável, finaliza o executivo.
| Empresas | Terminais |
| BR Distribuidora | 74 |
| Marítima Seguros | 100 (à venda no Rio de Janeiro) |
| Cemig | 1.000 (oferecidos aos funcionários) |
Nas operadoras que adotaram a tecnologia CDMA (Code-Division Multiple Access) Telesp Celular e Telefônica Celular o produto WAP é considerado um sucesso de marketing e vendas. A operadora paulista contabiliza mais de 1, 4 milhão de usuários, embora não saiba precisar qual é o índice de adesão no segmento corporativo.
Animada com os resultados e já com os planos de migração da sua rede definidos a Telesp Celular fechou contrato de R$ 520 milhões com a Lucent e Motorola a operadora parte para acordos operacionais como os fechados com a IBM/Notes e o recém finalizado com a Microsoft, que envolve um aporte de R$ 200 milhões da empresa na área de telefonia móvel brasileira.
A MS trabalha em prol da sua plataforma de mobilidade Mobile Information Server 2001 (MIS). Num primeiro momento, os serviços vão contemplar o acesso e notificação a todas as informações do MS Outlook, como e-mails, contatos, agenda e tarefas. A proposta é oferecê-los aos usuários em 90 dias.
Robson Ferreira, diretor de Internet e comércio eletrônico da operadora paulista, admite que a estratégia das alianças está ligada à quebra de resistência do usuário à tecnologia. Ao provermos aplicações de workflow, por exemplo, estamos provando que o WAP não é teoria, mas sim uma ferramenta efetiva de negócio, diz.
Na mesma linha segue Carlos Augusto Padilha, diretor da Telefônica Celular, que soma 600 mil clientes WAP. A empresa também beneficiada pela aliança com a Microsoft acertou parcerias com a Compaq para o desenvolvimento de novas aplicações direcionadas ao segmento empresarial. Hoje, o e-mail ainda é a aplicação mais usada e requisitada, mas temos que avançar, observa o executivo.
Geraldo Santiago, gerente de Marketing da Telemig Celular empresa que ainda não definiu, pelo menos até o fechamento dessa edição, como será a sua migração da tecnologia TDMA admite que o WAP na operadora foi prejudicado pela limitação de fornecedor de terminal. Mas diz que a receptividade ao produto não é considerada insatisfatória, já que ele tem tido atenção de um nicho específico de clientes. Não brigamos o WAP com o SMS. Ao contrário, nós os unimos. Dessa forma, podemos vender a solução, finaliza.
|Computerworld – Edição 346 – 25/07/2001|