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Nestlé lança “Rótulos que Falam” e torna 1,2 mil produtos acessíveis para pessoas com deficiência visual e dificuldades de leitura

Informação também é alimento. E, para milhões de brasileiros cegos, com baixa visão ou com dificuldade de leitura e interpretação de rótulos, ela ainda é inacessível. É nesse ponto cotidiano, silencioso e profundo que nasce o Rótulos que Falam, novo projeto da Nestlé desenvolvido em parceria com a startup brasileira Alia Inclui e apresentado nesta […]

Publicado: 13/12/2025 às 09:45
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Nestlé lança “Rótulos que Falam” e torna 1,2 mil produtos acessíveis para pessoas com deficiência visual e dificuldades de leitura
Construção civil — Foto: Reprodução

Informação também é alimento. E, para milhões de brasileiros cegos, com baixa visão ou com dificuldade de leitura e interpretação de rótulos, ela ainda é inacessível. É nesse ponto cotidiano, silencioso e profundo que nasce o Rótulos que Falam, novo projeto da Nestlé desenvolvido em parceria com a startup brasileira Alia Inclui e apresentado nesta semana em São Paulo.

A iniciativa torna 1,2 mil produtos do portfólio da companhia acessíveis por meio de um aplicativo que lê informações nutricionais, ingredientes, peso e demais dados de embalagens diretamente por voz.

Durante sua palestra, Gisele Pavin, head de nutrição da Nestlé, mostrou um dado que, confesso, me assustou: hoje, no Brasil, temos 17 milhões de pessoas com dificuldade de leitura e 7,9 milhões de pessoas com deficiência visual. Desse número, 87% dos brasileiros Pcds não sabem ler braile. Ela destacou que a iniciativa pode devolver autonomia a quem, historicamente, a perdeu no detalhe que parece trivial para quem não tem nenhuma limitação neste sentido, mas que pra quem tem, pode ser transformador o “simples” fato de conseguir identificar aquilo que consome.

Uma tecnologia guiada por quem vive o desafio

Por trás da solução está a cofundadora da Alia Inclui, Caroline Dall Acua, que possui a doença genética Retinose pigmentar, que causa a degeneração progressiva dos fotorreceptores na retina, levando à perda gradual da visão, começando pela visão noturna e periférica. Hoje, com apenas 10% da visão, transformou sua experiência pessoal em ferramenta social.

Caroline conta que a startup nasceu do incômodo com o óbvio. “O maior desafio que enfrentamos como Alia Inclui foi levar inclusão para pessoas com baixa visão e cegas de forma dissociada do capacitismo. Até porque as pessoas tendem a acreditar que a deficiência visual é uma forma de exclusão social e não procuram informações que possam ao invés de excluir, incluir essas pessoas”, conta Carol.

Leia também: Acessibilidade digital é um tema de empatia, não tecnologia

O aplicativo é gratuito, funciona em Android e iOS, e usa TalkBack/VoiceOver para narrar nome, ingredientes, valores nutricionais e tudo o que consta no rótulo. Também reconhece o código de barras em tempo real, avisa por som quando a embalagem está posicionada corretamente e organiza o conteúdo em seções, para que o usuário acesse só o que realmente procura.

Além de alimentos, o app identifica cosméticos, produtos de saúde e medicamentos, basta que estejam cadastrados na plataforma. A startup também promove treinamentos e capacitações sobre acessibilidade em empresas.

Construído com escuta ativa

A Nestlé, por meio do Panela, seu hub de inovação aberta, promoveu testes reais com consumidores cegos. Foram 15 participantes, dezenas de sessões, 41 melhorias implementadas e um NPS de 83 antes do lançamento oficial. O processo contou com apoio técnico da Fundação Dorina Nowill para Cegos e da nutricionista Regiane Silva, integrante do time da Nestlé e pessoa com deficiência visual.

Para Gisele Pavin, head de Nutrição, Saúde e Bem-Estar da Nestlé, o projeto simboliza o caminho que a empresa quer trilhar. “Inclusão precisa aparecer onde a vida acontece: no supermercado, na despensa de casa, na hora de cozinhar. É tecnologia a serviço da autonomia.”

Foto do encerramento da demonstração prática do aplicativo Aila, do projeto Rótulos que falam com todas as pessoas participantes do projeto. (Imagem: divulgação)

No encerramento do evento, o consultor de acessibilidade da Fundação Dorina, Lucas Matias Ferreira, conduziu uma demonstração prática. Foi ali que entendi o impacto concreto desta tecnologia.

O Lucas é deficiente visual e explicou pra gente como usar o celular no modo acessibilidade. Logo depois, tive o rosto vendado. Eu tentava, no escuro absoluto, encontrar o código de barras na prateleira, algo que nunca precisei pensar antes. O gesto, que deveria ser automático, virou labirinto. A mão hesita, o tato busca pistas, e o silêncio parece enorme.

Quando o aplicativo emitiu o sinal sonoro indicando que eu estava perto do código, percebi que a tecnologia tinha virado ponte. A voz sintetizada lendo ingredientes e calorias transformou a experiência: não era apenas sobre saber o que havia no rótulo, era sobre recuperar controle. Foi impossível não se impactar com a experiência.

Quando inovação encontra propósito

A Nestlé está presente em 99% dos lares brasileiros e conta com mais de 180 colaboradores com deficiência visual. Escalar o projeto para todo o portfólio traduz um posicionamento claro: inclusão pode ser iniciativa pontual, precisa ser responsável e constante.

“Rótulos que Falam” é uma dessas soluções que parecem pequenas, mas que mudam rotinas, relações e possibilidades. É tecnologia que amplia o mundo.

O aplicativo Alia Inclui está disponível gratuitamente na Google Play e Apple Store.

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